Esta semana retrocedemos 50 anos para recordar de uma obra-prima do diretor francês Jacques Tati, que mostra como o modernismo se reflete na vida cotidiana e doméstica da sociedade da época. A busca da máxima eficiência, os desenhos puros e a sofisticação de qualquer tipo de indumentária se torna mais do que uma ferramenta, no objetivo de qualquer entorno urbano.
FICHA TÉCNICA
Título original: Mon Oncle
Ano: 1958
Duração: 120 min.
Origem: França
Direção: Jacques Tati
Roteiro: Jacques Lagrange, Jean L’Hote, Jacques Tati
Trilha Sonora: Barcellini Franck, Alain Romans, Norbert Glanzberg
Elenco: Jacques Tati, Jean-Pierre Zola, Adrienne Servantie, Alain Becourt
“Meu Tio” (Mon Oncle) é um filme que resume muito bem a arquitetura e da cidade de meados do século XX, pelo menos em ambas extremidades mais reconhecíveis. O filme de Jacques Tati mostra o contraste entre dois mundos, duas formas de viver e compreender a cidade e a arquitetura que no final dos anos 50 iria se sobrepor violentamente.
Um deles é o mundo da modernidade exagerada por um otimismo futurista, como chegou (ou regressou) para a Europa nas mãos da reconstrução do pós-guerra e o outro é representado pela cidade tradicional.
Estes dois mundos são representados no filme de Tati em três níveis diferentes: o habitante, sua casa e o entorno cotidiano, ou o bairro. um dos personagens mais interessantes é uma crinça, que será o elo de ligação entre esses dois mundos completamente diferentes. Ele vive no bairro da moda, em uma casa moderna e tem uma família moderna. Do outro lado, está o o tio da criança, Monsieur Hulot representado por Tati , que vive na parte antiga da cidade em uma casa antiga.
O olho crítico afiado do diretor marca em cada cena as diferenças entre esses dois mundos em um contraponto contínuo. O personagem de Tati passa habitualmente a buscar o menino na escola, para logo levá-lo à casa de sua irmã, que é casada com Arpel, um fabricante de plásticos de sucesso. Tati pelo contrário, não tem emprego.
A Villa Arpel é uma bolha super moderna fechada para o exterior através de um muro que a separa do resto da vizinhança. Apenas um grande portão para o carro se conecta com a cidade. Já a casa de Tati está em meio a um complexo labirinto de casas, escadas e corredores, onde mal se consegue escapar dos olhares, das conversas, da saudação casual, enfim, do contato social com a vizinhança. A casa faz parte do bairro.
Na frente da casa moderna e isolado entre seus muros encontramos um jardim fechado e meticulosamente desenhado nos mínimos detalhes, ao ponto de impedir qualquer atividade que se queira realizar nele. Uma visão clara que se reflete na tédio constante do menino quando está em casa. Em contraste, o quintal da casa de Tati é o própio bairro. As crianças do bairro se reunem e brincam em terrenos baldios ou entre os carros na rua.
Enquanto a “eficiência” parece ser a palavra que expressa a casa moderna, com seus aparelhos eletrônicos controlados à distância e os eletrodomésticos onipresentes na vida familiar; é a “ineficiência”, a que é retratada no bairro antigo, onde ninguém parece fazer o que deve fazer: o verdureiro vende numa mesa de um bar a 50 metros da verdureria, o varredor não varre, etc. Entretanto o olhar é crítico e a eficiência acaba sendo inconveniente quando mais de uma vez os artefatos não respondem aos seus mestres.
Veja o trailer a seguir!